quarta-feira, 24 de junho de 2009

Vida de Boleiro

1

Minha primeira experiência com futebol, não foi muito engraçada, aliás, foi péssima, mas motivadora, meu pai me colocou para treinar no SESC e lá eu ia várias tardes na semana treinar. Dedicava todo meu potencial, mas não era bom. Logo quando as crianças iam escolher os times eu era o último a ser escolhido e quando tinha amistosos meu treinador sempre me colocava no final do jogo, não demorou para eu entender que meu futebol precisava melhorar. Pena que eu teimava em achar que meu lugar era ser atacante.

 

2

Era uma manhã de sábado, sol brilha forte, o céu azul, tudo perfeito. Inacreditável era eu acordado desde 8 da manhã para essa aventura épica em minha vida. Afinal, era um de meus sonhos se realizando, toda expectativa e ansiedade me fizeram pular cedo da cama e criar uma grande atmosfera de realização em minha mente.

Na cozinha tomando meu café, lá de fora veio o grito, era meu treinador passando e me chamando, me aprontei e fui para o campo, em poucas horas estaria disputando a final de futebol juvenil de Cornélio Procópio e para minha realização como capitão do time.

 

3

Meu pai um grande empresário meu, conseguiu me inscrever no campeonato de campo da cidade no SIBIN uma espécie de Náutico de Cornélio, sempre entre os últimos. Com meus 14 anos comecei a aparecer no cenário futebolístico de Cornélio Procópio. Mas como toda dificuldade os primeiros jogos permanecia no banco e sem espaço para jogar.

Para minha alegria um belo domingo, jogo marcado para as oito da manhã, coincidência ou não, o time só tinha 11 jogadores e eu fui escalado. Claro como atacante. E brilhei, cada bola corria como se fosse a oportunidade clara de gol. Depois daquele jogo não demorou para eu conseguir a vaga de titular e para minha alegria meu primeiro campeonato de futebol de campo eu terminaria como Artilheiro da competição com 8 gols e lógico para meu pai como promessa de ser craque.

 

4

Nosso jogo seria a preliminar da final do campeonato amador da cidade e já havia muitas pessoas na arquibancada, caminhava em direção ao vestiário com a sensação de que teria pela frente uma batalha épica, digna de ser contada aos meus filhos no futuro.

Quando entro no vestiário, as camisas devidamente organizadas e numeradas um clima de descontração que pairava no ar, logo foi interrompido pela advertência de concentração de nosso treinador MIP.

- Estamos pronto para a guerra e hoje vamos sair daqui com o caneco.

Bravejou ele.

 

5

No ano seguinte, meu pai achava que eu tinha que disputar o campeonato por um time de ponta, para ser campeão, concordei com ele e em poucos dias eu tinha a opção de escolher entre os dois melhores da cidade ou Cascavel ou Azul Clube. Alguns amigos meus jogavam no Cascavel e estava apto a escolher o mesmo destino mas minhas recordações me trouxeram a mete o que representava o Azul Clube na história da minha família, meu pai anos antes jogou pelo clube, meus tios, havia uma história uma identificação com o clube.

Alguns dias passaram e eu estava dividido, o Cascavel fora campeão um ano antes e eu tinha oportunidade de ser titular e o Azul montou um time com os melhores da cidade e sem dúvida não sobraria vaga para mim. Mas eu era um guerreiro e para manter a tradição da família estava inscrito pelo Azul.

 

6

Um círculo de rapazes entre 14 e 16 anos, todos abraçados e prontos para rezarem antes de entrarem em cena para o desafio que marcaria a adolescência de todos. Como capitão era meu momento de encorajá-los

- Sonhamos desde o primeiro jogo deste torneio a levantarmos esta taça, hoje nosso sonho pode tornar realidade, depende de nós de colocarmos nossa fé em campo e batalharmos.

As palavras fluíram e com raça estávamos rezando o Pai Nosso.

Antes da porta abrir para o campo o dono do time, Severino Bandeira e seus 75 anos, de dedicação ao futebol cumprimentou cada um e disse a maioria de seus pais jogaram por mim, vamos manter a história deles igual a de vocês.

E corremos para o campo...

 

7

Dois jogos eu já havia ido e nem nos minutos finais tinha entrado, havia desistido, jogado a toalha, achava que o treinador estava queimando meu filme.

Meu pai insistia que eu fosse, mas relutava dizendo que não queria ir para esquentar o banco, mesmo assim ele não desistia, então resolvi ir.

Entrei no vestiário emburrado, estava me arrumando, preparando para acompanhar o jogo do banco de reservas, foi quando o treinador entrou e disse:

- Gente seguinte o nosso zagueiro não vem alguém pode jogar na zaga?

Iria assistir o terceiro jogo do banco? Jamais! Sem pestanejar disse:

- Treinador pode me escalar eu jogo.

- Obrigado pegue a camisa 4, você vai de quarto zagueiro.

Entrei em campo sem a menor noção de como seria jogar na retranca, mas como sempre coloquei o coração na ponta da chuteira.

Fim de jogo, ganhamos por 2 a 0. O treinador chegou em mim e disse:

- Continua jogando na zaga e em um ano você será o melhor zagueiro da cidade.

Lá se foi meu sonho de marcar gols!

 

8

Como era de costume todos de mão dadas para entrar no campo, nosso goleio o primeiro a pisar em campo e com ele fogos e apoio da torcida, para nós meninos, parecia uma final de copa do mundo. Uma sensação única.

Todo aquele êxtase foi logo substituído por um jogo de grande rivalidade com nosso pior adversário Cascavel, o jogo em poucos minutos estava tenso. Tentava impor o time e motivá-los, mas o adversário jogava melhor, pressionava mais e não demoraram para abrir o placar.

A imagem que guardo é "daquele camisa 9" correndo para sua torcida e comemorando com grande satisfação. Será que todo esforço seria em vão?

Vinte minutos do primeiro tempo, uma bola alçada na área subi e tirei, infelizmente no pé do meio campo deles e um belo chute no ângulo, a decepção piorou, nosso time estava abatido o desastre era iminente.

Mas o sonho não estava perdido.     

 

9

Aquele ano o Cascavel se tornava bicampeão e nós amargurávamos a quarta colocação, ninguém escondia a decepção, a dor da derrota, podíamos ser adolescentes, mas por dentro crianças que estavam aprendendo o valor de Vencer e Perder, isso faria diferença para todos os anos seguintes da minha vida.

Para o treinador do time, promessa de um time mais forte para o próximo ano, para nós a ultima oportunidade de conseguirmos o titulo pois a idade já era a limite.

Meu pai, meu porto seguro, meu apoio, aquele que assistia todos os meus jogos sem eu saber, ele sempre acreditava e sempre me apoiava.

Mais um ano de derrotas...

 

10

40 do primeiro tempo, jogo corria tenso, faltas e muita marcação, apesar de pouca idade para todos, havia rivalidade nos olhos de cada jogador.

Um lance de pura habilidade do meu time levou a uma esplendida defesa e escanteio para nós, como sempre combinado, os zagueiros subiam para o cabeceio e os volantes nos cobriam. Me posicionei na meia lua da grande área, o time do Cascavel esta todo na zaga. Era uma oportunidade única dei alguns passos para trás e na hora da cobrança corri para o primeiro pau, de olho na bola o zagueiro deles correu para tirar a bola, mas fui mais veloz, avencei pulei forte e testei em direção a meta.

GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL

Vibrava, batia no peito a chance do titulo voltava e todos me abraçaram e eu dizia:

- Agora é a hora, não podemos desistir.

 

11

Primeiro jogo da ultima oportunidade de minha vida de ser campeão juvenil. Ao contrário dos outros anos, mais amadurecido e preparado, acreditava no potencial do novo time do Azul, mesmo recebendo convite para defender o Cascavel o qual fora negado diversas vezes.

Time reunido e o treinador em perfeito e bom som, afirmou a todos que o capitão daquele campeonato seria eu. Um time com vários craques da cidade como: Boi, Rb, Fernando e Gui. Ele me escolhera, a satisfação era grande e eu estava mais do que preparado.

A primeira fase do campeonato o meu time não tomou conhecimento de nenhum adversário, fomos imponentes e logo nos classificamos em primeiro do grupo.

A fase do mata-mata foi uma séria de jogos difíceis mas devidamente superada pelo nosso time e da mesma forma o time do Cascavel vinha ganhando de todos.

Uma grande final esperava aquele ano com dois times fortes.

 

12

Aos 10 minutos do segundo tempo a certeza de que podíamos ser campeões se tornava realidade, com uma bola lançada nas costas do lateral direito que subiu para apoiar e deixou nosso ponta livre, o mesmo em profundidade chutou cruzado para o desvio de nosso centroavante, 2 a 2.

Nossos olhos brilhavam, havia uma possibilidade e nosso time começou a lutar a batalhar o jogo ficava cada vez mais tenso, principio de briga aos 30 foi encerrado com duas expulsões para cada lado.

O estádio estava lotado, mais de 5 mil pessoas assistiam aquele jogo eletrizante, torcida apoiando e como sempre o time do Cascavel.

Uma bola triangulada no meio de campo, deixou o craque do time deles mano-a-mano com nossa zagueiro o qual foi facilmente driblado, na sua cobertura eu apareci e evitei o que seria o gol do titulo deles com um "senhor carrinho", bola essa espirrada para linha lateral o qual nosso lateral com um lançamento magistral colou nos pés de nosso meia, em dois ou três toques e uma tabelinha digna de Pelé nos levou a grande área, num contra-ataque que parecia fulminante, quando Fernando nosso legitimo cabeça 9 recebe a bola e tiro do goleiro sofre pênalti a poucos minutos do fim.

 

13

Nosso cobrador oficial havia sido substituído e todos ficaram na dúvida de quem bateria o pênalti, quando MIP grita do banco de reservas:

- Michelato, você bate!

Aquelas palavras penetram minha mente, como uma facada, meus momentos de indecisão levaram a afirmar com a cabeça e correr em direção ao gol adversário, naquele momento como um flash, tudo passou por mim, o começo no SIBIN, a mudança de posição, a chance de ser campeão e ...

... espera ai, a chance de perder? Se eu errasse o empate dava o titulo ao Cascavel e eu tinha que fazer. O medo tomou conta de mim o título estava em meus pés, a oportunidade era minha.

O árbitro me deu a bola, na marca da cal eu posicionei totalmente com MEDO, quando ouvi da torcida atrás do gol.

- Michelato, se você fizer esse gol iremos acabar contigo, tu irás apanhar, sabemos onde você mora.

Sem olhar para ninguém terminava de posicionar a bola, quando o juiz me diz:

- Não tenha medo, você foi encarregado de dar o título ao seu time, apenas faça isso.

Aquelas palavras ecoaram na minha mente como uma apoio que parecia vir de meu pai e naquele momento eu tinha a certeza da coisa certa a fazer. Colocar aquela bola dentro do gol.

Apaguei toda a gritaria que havia na torcida e naquele momento foquei minhas forças na cobrança daquele pênalti. Corri para a bola e chutei com toda minha força no canto direito baixo do goleiro...

 

... ai eu acordei!!!

2 comentários:

  1. Pensa em alguem q devorou o post 2 segundos depois dele ser postado?!
    Dificil achar alguém mais apaixonado por futebol....kkkkk

    Agora, eu tenho pra mim, q vc perdeu o gol... ahuahauahuahauahuah

    Beijos.

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  2. - Michelato, se você fizer esse gol iremos acabar contigo, tu irás apanhar, sabemos onde você mora.


    ahsasausasuhah... aiaiai crtezaaaa q se sua casa foi invadida... pq se deve ter erradoo o gol ahusauhsuhasuhas..


    flo manoo
    =D

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