Quando deixei a Índia, programei-me financeiramente, deixando no país 2
levas de dinheiro, preocupação esta para me manter ciente de minhas gastanças,
pois bem, enumerei-as como: Amarelo e Perigo. Quando o amarelo caísse era sinal
de preocupação e que deveria finalizar meu turismo e voltar à trabalhar. Pois
bem, por inúmeras falhas pessoais, o Amarelo chegou e desapareceu. Fatores
sucederam imigração, transporte, passagens e desorganização minha. O que te cabe em entender.
Ao
chegar em uma ilha ao norte da Indonésia, para aguardar minhas decisões
profissionais e o Perigo chegar, me
deparei com apenas 20 dólares. Dinheiro suficiente para comer e o hotel eu
pagaria no dia do Perigo. É
aqui caro amigo leitor, começa minha história. Traçado
meu rumo nesta ilha maior que o norte do meu querido Paraná. Me desloquei a uma
cidadela, apenas para ler e meditar. Sim, neste estilo. Previamente
treinado para falar o bom Bahasa
(idioma da Indonesia), em poucos minutos estava em uma lotação, sentido norte.
Achar alguém que fala o inglês por aqui é o mesmo que procurar em Sertaneja,
(cidade vizinha de Cornélio Procópio), nesta Kombi conheci um homenzarrão, por
volta dos seus 30, castigado pelo sol, aparentava 45. Tinha 35. Dominava um
inglês castigado e surrado mas com muito esforço comunicativo. Esta simpatia de
pessoa disse que mostraria a praia em que eu perguntará, mas só se antes eu tomasse um “kopi” em sua casa. Abençoado pelas palavras do profeta Jim Carrey,
não hesitei e disse: YES, MAN! Andei
cerca de meia hora entre uma imensa floresta de coqueiros, avistei um pequeno
vilarejo, não mais de 40 casas, aquelas típicas ruas recapeadas em anos
eleitorais, 2 botecos de-segunda, energia elétrica “gateada” para a comunidade,
sem água potável. Evidências de simplicade!A casa de
Dani, este senhor que mencionei era típica de conjuntos habitacionais
brasileiros, feita de alvenaria, telhado de Eternit, 1 sala dominada por um
conjunto de sofá surrado e maltratado pelo tempo, 1 quarto para a família de 5
pessoas, com uma cama de casal sustentada por tijolos, onde dormia 3, a sala de
televisão, básica que só. A cozinha, era muito engraçada, não tinha nada, não
tinha pia, geladeira ou até mesmo água, o que tudo tinha era 1 mesa de canto e
um fogão 2 bocas reformado de tempos em tempos. Casa pequeno para a alma dos
que a habita.Voltemos
ao café que fui convidado. O
café era fraco e adocicado, do jeito que odeio. Mas o sabor não me convenceu e
sim a atenção de ser tratado como AMIGO. O convite se estendeu: -
Fique
conosco o tempo que quiser.
Logo pensei
nas finanças e lógico: Jim Carrey!
-
Yes,
Man!
O tempo
gasto foi de muito amor recíproco, de um aprendizado sem estatura, de uma
devoção aos acontecimentos e ver como Deus coloca situações em nossos caminhos,
para nos motivar e reforçar. Passei os
dias comendo arroz e um peixe, bebendo muita água-de-coco. Dormindo no chão,
alimentando aves, pescando e adquirindo o dom da mímica para se comunicar. Engana-se quem
acha que passei uma vida de miserável. Em Mumbai tive vida de rico e luxo, comi
lá nos melhores restaurantes e dormi na casa de um famoso diretor
bollywoodiano, tudo que passei por lá, não se comparava com a benevolência,
fraternidade e comunhão que tive aqui. Tempos que
vão, mas ficam a memória no coração. A
vizinhança toda veio tirar foto, conversar, virei uma espécie de ET no meio
dessa gente. Uma espécie de atração principal de um circo itinerante que para
de tempos em tempos nas redondezas. Me deparei que era mesmo atração quando uma
mulher grávida veio e pediu para tocar o meu pequeno NARIZ. Logo pensei, tanto
lugar, logo o nariz? Pois bem, deixei e ela se foi. Perguntei
ao meu tradutor capenga e amigo, Ele me disse: Esta moça
está grávida e ao pedir para tocar no seu nariz ela estava fazendo uma oração
aos deuses para que o seu filha nasça com o nariz igual ao seu. Para você
que me conhece pessoalmente, como eu queria compartilhar pessoalmente desta
gargalhada que deu ao ler esse fato. Mas acredite: é verdade! Também
teve um garoto que tirou a camisa para eu autografar, vai entender esta gente.
Outro dia em um restaurante em Bali o cara começou a gritar e me chamar de RUUD
VAN NISTELROOY. Achou que eu era o verdadeiro. Disse que era o FAKE. Visitei um
orfanato de meninos distante 30 minutos da vila e se lá tivesse carregando
dinheiro e todos os meus bens, teria ficado. Situação triste, mas alegra-me em
saber que o bem sempre vence. Joguei futebol com os adolescentes, o campo? Uma
descida, grama nas laterais e cascalho no meio. Mas a comunhão com os garotos,
valeram mais do que as dores que meus pés sentem até então.Todos
estes dias, vi pessoas se alegrando com minha presença, mas se eles soubessem o
quão importante foi para mim seus risos, suas tentativas frustradas no inglês,
suas comidas estranhas que tive que provar, sua dedicação em zelar pelo meu bem
estar, garanto que mais alegre ainda teriam ficado.Depois de
tudo o que passei, meus ânimos para os desafios futuros estão carregados.E são
momentos como este que analisando a felicidade, afirmo que para soma-la é preciso
dividi-la.
Que saudades! As suas palavras se transformaram em memórias pra mim Diego! Aproveita muito!
ResponderExcluirLinda história!
ResponderExcluirParabéns por saber aproveitar bem a experiência!